Fala-se que as dinastias não existem mais. Talvez não exista em muitos lugares, com exceção de Várzea, município encravado no Sertão do Seridó Paraibano, mais conhecido como Vale do Sabugí, na Região Geográfica Imediata de Patos e integrante da Região Metropolitana de Patos, com população estimada em 2024 de 2.820 habitantes e área territorial de 190 km².
Lá, um grupo governava a cidade há mais de 30 anos de forma ininterrupta, apenas passando a chave da prefeitura eleição após eleição, mudando só os nomes de figuras que se reservaram no poder como acontece em dinastias. Embora em uma Dinastia seja a série de reis e rainhas de uma mesma família que se sucedem no governo, em Várzea existia uma série de gestores de um mesmo grupo ou família (Grupo da Família Morais) que comandou durante todas essas décadas aquela cidade.
De acordo com o historiador inglês David Thomson, o conceito básico do sistema monárquico era que o direito hereditário era a melhor forma de garantir o poder político. A sucessão hereditária afastava os perigos de uma sucessão disputada e assim as famílias titulares tinham um interesse natural em transmitir aos seus descendentes mais poder e prestígio. Desta forma centralizavam o governo em suas próprias mãos, atribuindo ao estado uma autoridade mais absoluta.
Guardada as devidas proporções, Várzea pode ser inserida neste contexto com um grupo instalado no poder desde 1993, quando Dr. Otoni pai ganhou as sucessivas eleições em 1992, até os dias de hoje, com Otoni filho conhecido como Toninho.
Para se ter uma ideia do tamanho desse poderio do Grupo Morais, em 1993 foi eleito Otoni, depois Dr. Orlando Augusto, e em seguida Demarzinho por dois mandatos. Para o mandato a seguir foi eleito Galego de Várzea por mais 2 mandatos, e por fim Otoni Filho (Toninho), todos pertencentes ao Grupo Morais.
Várzea é uma cidade bastante forte na área de educação pública, apresentou em 2011 já a maior nota do IDEB nas séries iniciais do Estado da Paraíba, com 6.6 e agora em 2024 a nota de 7.1, uma das maiores nas regiões Norte e Nordeste, sendo referência nacional nos indicadores educacionais e sociais. Está entre os 10 melhores IDEB’s em séries dos ensinos fundamental e médio.
Conforme dados estatísticos, 97,9% dos habitantes são alfabetizados; detém o menor índice de analfabetismo do Estado e da região Nordeste, com apenas 2,1% da população não alfabetizada, e taxas de evasão e repetência quase nulas. Não apresenta aluno em idade escolar fora da escola, inexistindo distorção idade-série.
E é dentro desse contexto educacional que surgiu a figura de um homem simples, do povo, do meio da própria sociedade e que nunca foi um político por profissão. De tantas idas e vindas da oposição, procurando um nome que pudesse derrotar o grupo que sempre governou o município, a oposição foi desta vez encontrar essa figura que tem a melhor representação, um professor jovem de 42 anos que leciona a disciplina de Educação Física no Rio Grande do Norte.
Professor Paulo Nóbrega de Medeiros, conhecido por Paulo de Justo, surge num contexto difícil politicamente e contra o poderio econômico e familiar de um grupo que contava com o apoio de três deputados estaduais, três ex-prefeitos, dois senadores, dois ex-vices-prefeito, um ex-senador, um deputado federal, o atual prefeito Toninho, o atual presidente da Câmara, e por fim o governador do estado João Azevedo.
Segundo populares, a candidatura de Paulo de Justo já nasceu grande porque nasceu do seio popular, tendo o apoio das camadas mais humildes e de todos aqueles que tinham sede de mudança.
Professor Paulo derrotou este grupo político que vinha há 32 anos comandando a cidade de Várzea. Derrubou a hegemonia do clã Morais que apoiava o candidato a prefeito e atual vice-prefeito Alexandre que foi interrompida por um educador, que no início da caminhada, ainda relutou em aceitar sua indicação pelo Republicanos. Porém, foi adiante e ganhou terreno e apoio popular para vencer o pleito do último domingo (06).
E para enfrentar tal grupo, o grupo oposicionista se cercou de cuidados tendo apoio importante do Grupo Motta (deputados Hugo Motta e Francisca Motta e do prefeito Nabor Wanderley) usando um nome cheio de simbolismo em sua coligação "Forte é o Povo", que reuniu os partidos Republicanos, PSB, PCdoB, PT e PV. O professor escolheu como vice-prefeito seu xará Paulo Nóbrega.
Em seu perfil nas redes sociais, professor Paulo se definiu assim: Um cristão! Esposo, pai, professor de Ed. Física no Rio Grande do Norte, teólogo e estudante de Gestão Pública. Filho de Várzea e prefeito eleito pela força do povo.
Outro fato que chama atenção é a votação expressiva sufragada pelo professor que alcançou 1.538 votos, ou 57,32% dos votos validos. Quase 400 votos de maioria (393), considerada bastante expressiva para o tamanho do eleitorado de Várzea.
“Tivemos uma votação histórica, o povo de Várzea venceu. Venceu porque sabem que tem força, coragem e desejo de mudança. Há muito que agradecer e faremos isso em ações. Vamos juntos trazer a transformação que Várzea precisa. Gratidão. Gratidão imensa a Deus e ao povo, que é o grande protagonista desse resultado”, disse o prefeito eleito.
A população de Várzea estava com tanta sede de mudança que os votos brancos foram apenas 8 (0,29%); nulos: 27, equivalente a 0,99% e um total de abstenções em 166 (5,76%). O número de 2.718 eleitores que participaram do pleito representou a vontade do povo de apostar em transformações.
Emocionado, o candidato destacou sua campanha e comemorou a conquista em passeata pelas ruas da cidade.
O professor Paulo derruba a hegemonia do clã Bento de Morais no município de Várzea e ainda conseguiu fazer maioria para governar com ajuda da Câmara. Dos 9 vereadores eleitos, ele terá cinco na sua base (todos do seu partido Republicanos) e quatro eleitos pelo União Brasil fazendo a oposição.
Várzea prova que gigante mesmo é o povo. E com um espírito renovador, venceu a força da esperança
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